Leishmaniose Cutânea ou Tegumentar
O que é?
Doença infecciosa (causada por um microorganismo)
Não contagiosa (não é transmissível de pessoa para pessoa)
Quem causa ?
Diferentes espécies de protozoários do gênero Leishmania que acometem pele e mucosas.
É uma zoonose (este micro-organismo afeta naturalmente animais não humanos. O ser humano é um hospedeiro acidental)
Por isso é chamada de zoonose

Existem cerca de 30 espécies de Leishmania em todo o mundo. 21 delas são consideradas capazes de causar doenças no ser humano.
Nas Américas, há 12 tipos de Leishmania causadores de doença em humanos e 8 espécies que causam doenças apenas em animais.
No Brasil já foram identificadas 7 espécies. As 3 principais são:
Leishmania (Viannia) braziliensis:
- Ampla distribuição do Sul do Pará ao Nordeste, Centro Sul do País e algumas áreas da Amazônia
- Áreas de terra firme
Leishmania amazonensis
- Florestas primarias e secundarias da Amazônia (estados do Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantis e sudeste do Maranhão) Bahia , São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
- Principalmente em áreas de igapó e de florestas tipo várzea
Leishmania (Viannia) guayanensi:
- Limitada ao Norte da Bacia Amazônica (Amapá,Roraima, Amazonas e Pará), estendendo-se pelas guianas
- Floresta de terra firme em áreas que não alagam no período de chuva.
Porque uma doença que naturalmente afeta animais começa a afetar o ser humano?

- Entrada do ser humano em área de mata virgem. Nesse caso, o ser humano se torna hospedeiro acidental.

- Degradação da natureza (desmatamento, criação de hidrelétricas, etc) obrigando o parasita a aumentar o seu raio de circulação.

- Expansão das áreas urbanas, deixando o ser humano convivendo lado a lado com áreas de mata
Entre 2001 e 2009 identificou-se 36 circuitos de produção da doença, responsáveis por 43,7% do total de casos registrados em 2009

Como se transmite?
A Leishmaniose não se transmite de pessoa para pessoa.
A transmissão ocorre através da picada de insetos transmissores infectados.
Para que ocorra a transmissão é necessária uma cadeia.
A cadeia de transmissão ocorre da seguinte forma:
Hospedeiros e reservatórios silvestres:
Os reservatórios da Leishmaniose são os animais que permitem a manutenção e circulação do parasita na natureza.
Eles não conseguem transmitir a infecção entre si, precisam ser picados para passar o parasita para diante.

Animais Domésticos
Existem muitos casos de Leishmaniose em animais domésticos como cães e gatos.
Mas não há provas de seu papel na cadeia de transmissão.
Até o momento, sabemos que este animais são apenas hospedeiros acidentais.

Vetores
Os vetores transmissores da Leishmaniose são mosquitos flebotomíneos conhecidos como mosquito-palha, tatuquira, birigui, entre outros

Como é a lesão?
Estágio inicial

Lesão inicial da LT (Fonte: Manual LT – MS – 2017 – Pág 43)
- Placa infiltrativa sem úlceras
Lesão típica

- Lesão avermelhada
- Ulcera com fundo granuloso
- Bordas elevadas e avermelhadas
Evolução da lesão

- A lesão pode ir aumentando o fundo ulcerado com bordas mais elevadas e mais finas que no estagio do inicio da úlcera
- As lesões podem ir aumentando em quantidade
- As ulceradas podem ir aumentando em extensão (para os lados) ou em profundidade (para dentro)
Como a doença pode se apresentar ?
- A lesão costuma aparecer entre 2 semanas a 2 meses após o contato com o parasita
- A lesão inicial é uma mácula que perdura por 1 a 2 dias após a picada infectante.
- A mácula evolui para uma pápula que aumenta progressivamente produzindo uma úlcera
- Linfadenopatia próxima à lesão pode surgir antes, durante ou após o aparecimento da lesão.
- A úlcera é indolor e costuma aparecer em áreas de pele exposta.
Infecção inaparente
Exames específicos mostrando contato com a Leishmania sem nenhuma lesão cutânea aparente ativa ou antiga
Forma Cutânea localizada
- Uma única lesão em pele ou mais de uma.
- Mais de uma lesão de pele, localizada na mesma área do corpo
- Podem ocorrer na região da picada ou nos pontos da picadas infectantes
- Geralmente ulcerosas
- Demonstram tendência à cura espontânea
- Apresenta boa resposta ao tratamento
- Pode-se acompanhar de linfadenopatia regional, linfangite ascendente ou ulceração de nódulos
Forma Cutânea disseminada
- Várias lesões de pele localizadas em várias partes do corpo
- O parasita se dissemina pelo sangue ou por via linfática
- Lesões numerosas e distantes dos locais das picadas
- Distribui-se por diversas áreas do corpo
- Em geral são pequenas e ulceradas mas podem ser de tamanhos diferentes
- Costumam responder bem ao tratamento
Foma cutânea difusa
- L. amozonensis
- Manifestação anérgica, rara e grave.
- Inicio insidioso, com lesão única não responsiva ao tratamento
- Formação de placas infiltradas e múltiplas nodulações não-ulceradas que recobrem grande extensão cutânea – polimorfismo lesional.
- Tratamento difícil e ineficaz
Forma recidiva cutis
- Evolui com cicatrização no centro da lesão de forma espontânea ou após tratamento mas mantém atividade nas bordas
- Os parasitos são dificilmente encontrados.
Forma Mucosa primária
- Lesão causada pela picada do vetor diretamente na mucosa – labial ou genital
Forma Mucosa contigua
- Envolvimento da mucosa em decorrência da expansão de uma lesão cutânea pré-existente
Forma Mucosa concomitante
- Aparecimento de lesão mucosa simultânea à lesão de pele
Forma Mucosa indeterminada
- Acometimento mucoso sem identificação da porta de entrada. Provavelmente sem manifestação clínica cutânea prévia
Forma Mucosa tardia
- Aparecimento de lesão mucosa anos após o surgimento da lesão cutânea
Como se confirma o diagnóstico?
Exames parasitológicos:
- Demonstração direta do parasito: (Imprint)
Neste teste, retira-se uma parte da lesão e o parasito é encontrado diretamente na lesão da pele.
Este teste é o mais rápido, barato e fácil de ser realizado
Quanto maior o tempo da lesão, menor a chance de positividade
- Isolamento em cultivo de aspirado de lesão (NNN e LIT à cresce após 5 dias)
É um método de confirmação da presença do agente etiológico que permite a posterior identificação da espécie de Leishmania envolvida
Os fragmentos cutâneos ou de mucosa obtidos por biópsia da borda da úlcera são cultivados em meio próprio
Exames imunológicos:
- Teste intradérmico – Intradermoreação de Montenegro ou da Leishmania (IDRM)
Pode apresentar falso negativo (dar negativo mesmo em quem tem a doença) até 4 a 6 semanas do início da lesão.
Depois desse tempo, este teste se positiva em 90% dos pacientes (ou seja, este teste com resultado negativo não exclui o diagnóstico)
O teste pode permanecer positivo mesmo após a cura, pois indica contato prévio e não necessariamente doença ativa
Testes sorológicos:
- Imunofluorescencia Indireta – IFI (limitado valor diagnóstico – vários falsos positivos)
Testes moleculares:
- Reação em cadeia de polimerase de amostra de tecido – PCR (grande sensibilidade e especificidade)
É um método bastante eficaz e pode ser realizado nos mais diferentes tipos de materiais.
Testes histopatológicos:
A Leishmaniose cutânea causa dermatite do tipo granulomatosa difusa ulcerada.
Muitas vezes podem ser confundidos com as lesões causadas pela Tuberculose.
Pode haver algumas lesões microscópicas típicas, mas a visualização do parasito ao microscópio dá um resultado confirmatório.
Diagnóstico diferencial:
As lesões causadas pela Leishmaniose cutânea são úlcerovegetantes.
Mas este tipo de lesão não é específica dessa doença.
Existem várias outras condições que podem se manifestar de forma muito parecida
O tratamento muda de acordo à causa.
Por isso, a confirmação diagnóstica deve ser feita antes do inicio do tratamento.
Veja alguns exemplos de doenças que podem se apresentar de forma similar à Leishmaniose cutânea:
Tuberculose cutânea
- Infecção pelo Micobacterium tuberculosis (o mesmo que causa doença no pulmão)
- Ocorrem geralmente em pessoas que já tiveram contato prévio com o bacilo, mesmo que nunca tenham desenvolvido doença
- Outras vezes, a lesão em pele pode ser secundária a uma lesão iniciada em gânglios, ossos, ou outros locais.
- Tratamento é realizado com os mesmos remédios das outras formas de Tuberculose.
Paracococcidioidomicose
- Infecção pela inalação dos esporos que se encontram na terra.
- Sistema imunitário destroi o invasor formando granulomas que limitam a disseminação de leveduras
- Tratamento com Itraconazol e Cetoconazol
- Infecção causada pelo fungo sporothrix
- Relacionada a atividades que envolvem revolver o solo ou ferimentos com material contaminado
- Restrita à pele ou com acometimento linfático (nódulo – úlcera – cordão endurecido – aspecto em rosário)
- Lesões nodulares, ulceradas ou verrucosas.
- Tratamento: Anfotericina B
Cromomicose
- Micose subcutânea de curso crônico, evolução lenta, causada por fungos demáceos
- Infecção por penetração de espinhos ou farpas de madeira (fungo vive em matéria orgânica)
- Caracteriza-se por nódulos ou verrugas, ulceradas ou não, espessamento e escurecimento da derme e epiderme
- Tratamento com Itraconazol / crioterapia
Ectima
- Infecção bacteriana mais profunda que o Impetigo, causada pelo Streptococus do grupo A ou Stáfilo aureus.
- Transmissão pessoa a pessoa
- Lesão inicial vesicular ou vesículo-pustulosa à ulcera superficial à crosta
- Tratamento com remoção das crostas e curativo com permanganato de K
Lobomicose
(* Doença de Jorge Lobo ou Blastomicose Queilodeana)
- Fungo loboa loboi
- Florestas quentes com muita chuva (bacia amazônica)
- Inoculação traumática do fundo por via transepidérmica
- Lesão em áreas cutâneas expostas.
- Nódulos semelhantes a queloides assimetricamente distribuídos, unilaterais, com tendência a coalescer
- Assintomáticos, sem tendência à cura espontânea
- Outras formas dessa infecção: verruciforme, gomosa, ulcerada
Leishmaniose tem cura?
Tem cura sim.
Existem várias opções de tratamentos:
- Glucantime
- Anfotericina B desoxicolato
- Anfotericina B lipossomal
- Petidina
O esquema, dose e tempo de tratamento é realizado de acordo com a avaliação dos seguintes fatores:
- Tipo de apresentação
- Idade do paciente
- Doenças associadas
Critérios de cura

Forma cutânea – cicatrização das lesões até 3 meses após final do tratamento
Forma mucosa – regressão da lesão e confirmação de cura até 6 meses após o final do tratamento
Acompanhamento médico
- Do primeiro ao terceiro mês após o tratamento – Retorno mensal durante 3 meses consecutivos após o término do tratamento
- Depois, de 2 em 2 meses até completar 1 ano
Fonte:
Estou com paciente com ferida ( leishmaniose) na perda , gostaria de saber : qual cobertura seria indicada para o tratamento ?.
Saudação senhores essa Doenças leva até morte né Leishmaniose ?
Tenho uma amiga que tem LEISHMANIOSE e fez o tratamento com ANFOTERICINA B durante 15 dias e as lesões continuam, o médico passou outro tratamento com FLUCONAZOL (250 comprimidos) , sendo que a mesma é portadora de LÚPOS. Esse tratamento com fluconazol vai resolver?
Desde já obrigada.